UMA REFLEXÃO PARA A SEMANA
Durante a semana, dedique um tempo pessoal à leitura e à meditação do texto abaixo:
Santo Agostinho, bispo e doutor da Igreja
(séc. V)
Com
frequência vos advertimos de que não devemos considerar os Salmos como sendo
uma voz isolada, de um só cantor, mas, sim, como a voz de todos aqueles que
pertencem ao Corpo de Cristo. E como no Corpo de Cristo todos estão reunidos,
Ele fala como se fosse um só homem, pois Ele é, ao mesmo tempo, muitos e um só.
São muitos, se considerados em si mesmos, mas são um só naquele que é um. Ele
também é o templo de Deus, do qual diz o Apóstolo: “santo é o santuário de
Deus, que sois vós” (1Cor 3,17), isto é, todos os que creem em Cristo e creem
de tal modo que também o amam, pois crer em Cristo é amá-lo. Não como os
demônios que não o amavam e, por isso, embora acreditassem, diziam: “Que queres
de nós, Filho de Deus?” (Mt8,29). Nós, ao contrário, acreditemos amando-o, e
não digamos: “Que queres de nós, Filho de Deus?”. Mas digamos: nós te
pertencemos, tu nos remiste.
Todos, portanto, que assim creem, são como pedras vivas com as quais se edifica o templo de Deus (1Pd 2,5); e como a madeira incorruptível, com a qual se fabricou a arca que não naufragou no dilúvio (Gn 6,14). Efetivamente, este é o templo de Deus onde se reza a Deus e Ele atende, isto é, os próprios homens. Somente a quem ora no templo de Deus é dado ser entendido quanto à vida eterna, embora possa ser ouvido acerca de alguns bens temporais, que Deus concedeu até aos pagãos. Até mesmo os demônios foram atendidos quando pediram para entrar nos porcos (Mt 8,31-32). Ser atendido em relação à vida eterna é uma coisa diferente, e não se se concede senão a quem ora no templo de Deus. Ora, no templo de Deus, quem ora estando na paz da Igreja, na unidade do Corpo de Cristo. Esse Corpo de Cristo consta de muitos fiéis em todo o mundo, e é atendido porque ora no templo. Pois, ora em espírito e verdade quem ora na paz da Igreja (Jo 4, 21-24), não no templo que era figurativo.
No nível da imagem, o Senhor expulsou do templo aqueles que buscavam seus próprios interesses, isto é, iam ao templo para vender e comprar (Jo 2,15). Se, porém, aquele templo era uma imagem, evidencia-se que o Corpo de Cristo – verdadeiro templo de que o outro era imagem – contém juntos compradores e vendedores, isto é, gente que procura os próprios interesses e não os de Jesus Cristo (Fl 2,21). Mas são expulsos com chicotes de cordas. O laço representa os pecados, conforme diz o profeta: “Ai dos que se atraem a iniquidade com os laços da vaidade” (Is 5,18). Arrastam os pecados como laços da vaidade os que acumulam pecado sobre pecado, cometendo um e, para ocultá-lo, cometem outro. Da mesma forma que se faz cordão laço. Une-se cordão a cordão, não em fio reto, mas torcido, assim todos os atos malvados, os pecados, acumulam-se e de pecado em pecado, um unido a outro, tece-se um longo laço. Os caminhos do pecador são maus, e seus passos se desviam (Jó 6,18). Para que serve esse laço a não ser para atar de mãos e pés o pecador, a fim de ser lançado nas trevas exteriores? Lembrai-vos de que foi dito de determinado pecador no Evangelho: “Amarrai-lhe os pés e as mãos e lançai-o fora, nas trevas! Ali haverá choro e ranger de dentes” (Mt 22,13). Não haveria com que ligar-lhe as mãos e os pés, se ele mesmo não tivesse feito cordão laço. Daí o que está escrito claramente em outra passagem da Escritura: “As próprias iniquidades enredarão o ímpio, que será preso pelos laços de seus próprios pecados” (Pr 5,22). E visto que os homens são açoitados por seus próprios pecados, o Senhor fez um chicote de laços e com ele expulsou do templo todos os que buscavam seus próprios interesses e não os de Jesus Cristo (Fl 2,22).
Pois
bem, a voz desse Templo é a que ressoa no salmo. Nesse Templo – e não no templo
material -, conforme disse, roga-se a Deus e Ele escuta em espírito e verdade –
não à voz corporal -, pois aquele templo era sombra que mostrava o que havia de
vir. Ele já caiu. Caiu então, nossa casa de oração? Absolutamente não. Não foi
ao templo que caiu que se deu o nome da casa de oração, da qual foi dito: “a
minha casa será chamada casa de oração para todos os povos” (Is 56,7). Ouvistes
o que disse nosso Senhor Jesus Cristo: “Não está escrito que a minha casa será
chamada casa de oração para todos os povos? Vós, porém, fizestes dela um antro
de ladrões” (Mc 11,17).
Por
acaso, aqueles que quiseram fazer da casa de Deus um covil de ladrões
destruíram o templo? Assim também aqueles que vivem mal na igreja, naquilo que
depende deles, querem converter da casa de Deus em um covil de ladrões, mas,
nem por isso destroem o templo. Pois, virá o dia em que, devido ao laço
trançado de seus pecados, serão lançados para fora. Pelo contrário, quanto ao
templo de Deus, que é o Corpo de Cristo, essa assembleia de fiéis tem uma só
voz, e canta o salmo como se fosse um só homem. Já ouvimos com essa voz em
muitos Salmos, ouçamo-la também neste. Se quisermos, será a nossa voz; se quisermos,
ouviremos o cantor com nossos ouvidos e cantaremos em nossos corações. Mas, se
não quisermos, estaremos no templo como compradores e vendedores, isto é,
procuramos nossos próprios interesses, entramos na igreja, mas com a finalidade
de procurar as coisas que agradam a Deus.
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